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2 de set. de 2011

Agenda Cultural: "Tintin"



Tenho certeza de que você, caro leitor desta magnífica Agenda, já assistiu, há muito tempo, a algum desenho animado do Tintin. Também estou certo de que ouviu falar que Peter Jackson, o diretor de “Senhor dos Anéis” e “King Kong”, está produzindo um filme do Tintin, com direção de Steven Spielberg. Ainda me lembro de ter dito, em outras edições desta fantástica Agenda, que sou um fanático por quadrinhos. E, por fim, caros leitores, imagino que saibam aonde quero chegar: recomendo que comprem e leiam a fantástica coleção de histórias de Tintin, escritas e desenhadas pelo belga Georges Remi (mais conhecido pelo pseudônimo “Hergé”).

A coleção consiste em 23 títulos (24, se incluírem “Tintin e a Alpha-Arte”, cuja criação foi infelizmente interrompida pela morte de Hergé) e apresenta personagens imortais como o próprio Tintin, seu cachorro, Milu, o mal-humorado e beberrão Capitão Haddock, o Professor Girassol, os detetives Dupont e Dupond, entre outros.

As três primeiras histórias – “Tintin no País dos Sovietes”, “Tintin no Congo” e “Tintin na América” - não são muito boas. Todas se desenvolvem em episódios curtos, sem muita coesão, quando não transparecem alguns preconceitos do autor. Os quarto e quinto volumes – “Os Charutos do Faraó” e “O Lótus Azul” -, entretanto, são certamente os meus favoritos (mesmo que não tenham o Capitão Haddock) e fazem com que a série finalmente engrene.

“As Aventuras de Tintin” são grandes histórias de mistério e conspiração, sempre com um pouco de humor – como as trapalhadas de Dupont e Dupond, os insultos do Capitão (“Marinheiros de água doce!”, “Com mil milhões de borrascas!”, “Anacolutos!”) ou a caricatura que Hergé faz da América Latina em alguns arcos.

Gostaria de mencionar todos os volumes de que gosto, mas, visto que gosto de quase todos, parece-me uma tarefa desnecessária. Espero sinceramente, como sempre, que tenha convencido você, caro leitor, a ler e lembrar as aventuras de Tintin.

A lista dos títulos em ordem de lançamento:

1. Tintim no País dos Sovietes
2. Tintim no Congo
3. Tintim na América
4. Os Charutos do Faraó
5. O Lótus Azul
6. O Ídolo Roubado
7. A Ilha Negra
8. O Cetro de Ottokar
9. O Caranguejo das Pinças de Ouro
10. A Estrela Misteriosa
11. O Segredo do Licorne
12. Tesouro de Rackham o Terrível
13. As Sete Bolas de Cristal
14. O Templo do Sol
15. Tintim no País do Ouro Negro
16. Rumo à Lua
17. Explorando a Lua
18. O Caso Girassol
19. Perdidos no Mar
20. Tintim no Tibete
21. As Jóias da Castafiore
22. Voo 714 para Sydney
23. Tintim e os Pícaros
24. Tintim e a Alfa-Arte




17 de ago. de 2011

Agenda Cultural: Beto Guedes

Haverá, nos dias 19 e 20 de agosto, às 22h30, no Café Paon (Av. Pavão, 950, Moema), duas apresentações de Beto Guedes, um dos fundadores do consagrado Clube da Esquina, junto a Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges. Os ingressos estão disponíveis aqui por R$ 100, R$ 130 ou R$ 150, dependendo do lugar escolhido. Caso queira mais informações, ligue para (011) 5531-5633 ou (011) 5533-5100.

Beto Guedes é, creio, um dos membros menos conhecidos do Clube da Esquina, talvez porque não apresentou composições no disco que o grupo lançou, ou talvez porque Milton Nascimento o ofusque. O que é uma injustiça: Beto Guedes também compôs músicas fantásticas (como “Lumiar”, “Sal da Terra”, “Amor de Índio”, “Página do Relâmpago Elétrico”, “Sol de Primavera”, entre outras) e fez grandes interpretações de seus colegas de Clube, como “Maria Solidária”, de Milton, e “Paisagem da Janela”, de Lô Borges.

A quem não conhece a obra de Beto Guedes, recomendo que compre e ouça o disco “A Página do Relâmpago Elétrico”, que é excelente, e as músicas que citei acima, seus maiores sucessos. E sugiro a todos, se possível, que vão a (pelo menos) um dos shows.

Lumiar - Beto Guedes:

12 de ago. de 2011

Agenda Cultural: "Sandman"


Os leitores desta magnífica Agenda já devem ter percebido que sou fanático por histórias em quadrinhos. Lembro-me de já ter comentado, quando recomendei “Daytripper”, sobre a evolução do gênero, a princípio voltado para o público infantil, e que está, desde os anos 80, tomando uma temática mais adulta e revelando seu potencial como obra de arte ao atrair excelentes escritores e desenhistas.

“Sandman”, de Neil Gaiman, é uma das obras-primas dos quadrinhos e, potencialmente, a de maior importância. Apesar do nome sugestivo, Sandman não é um super-herói. O protagonista é, na verdade, uma entidade responsável pelos sonhos de todos os seres do Universo, não exatamente um deus, uma vez que os deuses têm origem em seu domínio. A história começa quando Sandman é capturado e aprisionado por um mago, o que põe em movimento os eventos que se sucedem. Rapidamente é revelado que, apesar de ser o senhor dos sonhos, Sandman não é uma figura alegre e despreocupada, como o imaginaríamos, mas sóbrio, mal humorado, sombrio e vingativo. Ao longo da série também se vê que, apesar de ser infinitamente poderoso, não é infalível, sobretudo em seus relacionamentos pessoais, que, aliás, quase invariavelmente terminam mal.

A série é dividida em sete arcos e três coletâneas de histórias curtas. À exceção do primeiro, em que o autor ainda tentava se estabelecer, todos os arcos são brilhantes, acompanhando as mudanças pelas quais Sandman passa após ser aprisionado. As histórias curtas, no entanto, são absolutamente geniais. Em uma delas Shakespeare apresenta com sua trupe “Sonho de uma Noite de Verão” para uma audiência de fadas e o próprio Sandman, e mostra o relacionamento de Shakespeare com seu filho Hamnet – um presságio para outros eventos da série. Em outra, chamada “Ramadan”, que se passa em Bagdá, o sr. Gaiman imita o ritmo das histórias das “Mil e Uma Noites”, para não mencionar as ilustrações extraordinárias de P. Craig Russell.

A série consiste, no total, em 75 revistas, mas já reunidas em volumes e, mais recentemente, em uma edição de colecionador com capa dura, já traduzida para o português. Mais uma vez devo dizer que as histórias são excelentes, para não mencionar as ilustrações (colaboração de inúmeros desenhistas) e a conclusão: vale a pena seguir seus sonhos?


A lista dos volumes é a seguinte (sugiro que leiam todos - e nessa ordem):
Prelúdios & Noturnos
A Casa de Bonecas
Terra dos Sonhos
Estação das Brumas
Um Jogo de Você
Fábulas & Reflexões
Vidas Breves
Fim dos Mundos
Entes Queridos
Despertar

5 de ago. de 2011

Agenda Cultural: "Dilbert"


"Dilbert”, de Scott Adams, é, certamente, a mais famosa tirinha a tratar do mundo corporativo. As histórias são geralmente ambientadas no escritório em que o personagem-título trabalha, um inferno de burocracia, incompetência e estupidez generalizadas. O humor da tirinha costuma se concentrar na falta de habilidades sociais de Dilbert, em sua relação com seus colegas de trabalho, em Dogbert, seu cachorro cínico e cruel e, principalmente, nas idiotices de seu chefe, quase sempre retratado como um imbecil ganancioso e irresponsável. Há ainda as políticas insanas que a empresa pratica, como a de promover somente os funcionários mais incompetentes a gerentes, a fim de impedi-los de trabalhar, sempre recheadas de jargão administrativo sem sentido.
“Dilbert” é particularmente engraçado para quem trabalha no mundo corporativo e/ou estuda administração, uma vez que facilmente reconhece em algum dos personagens o colega de trabalho estúpido, o chefe folgado, as políticas ilógicas, etc., a que se sujeitam no emprego.

As tirinhas são lançadas diariamente no site http://www.dilbert.com/, e trazem garantidamente diversão e risadas.

O chefe

Dogbert

8 de jul. de 2011

Agenda Cultural: "Zombie Economics"

A crise de 2008. Um assunto recorrente nos dias de hoje. Muitas foram as causas apontadas, algumas dessas sendo ideias inerentes ao pensamento econômico moderno, ideias muito antigas e que, em mais de uma situação, foram provadas mortas. Matar vampiros e lobisomens é bastante simples, mas como matamos zumbis do pensamento econômico?

Em “Zombie Economics – How dead ideas still walk among us”, John Quiggin, professor da Universidade de Queensland, tenta, de forma descontraída e de fácil leitura, expor alguns desses “zumbis”, de onde vieram, qual sua relação com crise e, por meio da historia, teoria econômica e de evidências concretas, algumas formas de nos livrarmos deles.

Uma leitura essencial para todos, desde o estudante, passando pelo profissional da área, até o simples curioso.

24 de jun. de 2011

Agenda Cultural: "A Vida dos Outros"


Gostaria de recomendar “A Vida dos Outros” (o título original, em alemão, é “Das Leben der Anderen”), lançado em 2006, dirigido e escrito por Florian Henckel von Donnersmarck, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e de muitos outros prêmios na Alemanha e mundo afora.

“A Vida dos Outros” se passa na Alemanha Oriental ainda sob regime socialista e o protagonista, Gerd Wiesler, é um dos agentes da polícia secreta do governo (a temida Stasi) e cuja função consiste em vigiar suspeitos de “conspirar” contra o regime. A história começa quando o ministro da cultura decide vigiar o escritor Georg Dreyman, que namora a atriz Christa-Maria Sieland, por quem o ministro tem interesses sexuais. Gerd, como homem do regime, obedece sem questionar e arma câmeras pela casa de Dreyman, e começa a observar sua vida pessoal.

À medida que espia Dreyman, sua relação com Maria e com seus amigos, Gerd percebe como sua vida inteiramente dedicada ao regime é vazia, solitária e infeliz e passa a criar simpatia pelo casal, ao ponto de ajudar Fulana quando ela tem uma crise nervosa depois de ser abusada pelo ministro e se sensibilizar quando Dreyman toca uma peça ao piano – chamada “Sonata para um homem bom” – e encobrir suas conspirações contra o regime. O ator que faz o papel de Gerd, Ulrich Mühe, está absolutamente brilhante: interpretar um personagem que muda ao longo da trama é uma tarefa difícil, e Mühe deixa bem claro que está à altura do desafio.

Além de uma história excelente, há ainda pitadas de humor contra os regimes totalitários, especialmente contra o cinismo das autoridades que se vêem no direito de violar os direitos à privacidade e à liberdade do povo.

Creio que, nesse caso, contar o final do filme não vai estragar a graça de assistir a “A Vida dos Outros”, mas aqueles que não quiserem saber podem pular este parágrafo. No fim, o regime socialista é derrubado após a Queda do Muro de Berlim, e os arquivos secretos do regime são abertos a público. Sicrano, desconfiado de que fora espionado, descobre que o espião responsável por vigiá-lo, Fulano, o protegeu. Um pouco depois, Dreyman escreve um livro chamado, justamente, “Sonata para um Homem Bom”. Gerd vai comprar o livro e vê que é dedicado a ele mesmo e, quando lhe perguntam, no caixa, se quer embrulhar para presente, ele responde “Não, obrigado. É para mim.”

Eu acabei omitindo alguns detalhes – esses sim acabariam com a graça do filme -, mas espero, mais uma vez, que tenha convencido você, caro leitor, a assistir ao filme. É um tema recorrente na arte se somos de fato capazes de mudar e nos tornar pessoas melhores, e as respostas variam, mas poucas são escritas tão belamente quanto em “A Vida dos Outros”.

17 de jun. de 2011

Agenda Cultural: "O Alienista"


A maioria dos leitores deve ter ouvido falar pelo menos uma vez de “O Alienista”, uma novela de Machado de Assis, e certamente de um professor de português/literatura. É possível, no entanto, que alguém não conheça a história, de modo que não seria mau fazer um resumo.

A história se passa na em Itaguaí, na segunda metade do século XIX, e começa com um médico que toma imenso interesse pela loucura e decide, a fim de estudar e esclarecer o tema, um manicômio na cidade. Aos poucos o alienista começa a internar, de modo inocente, qualquer pessoa que tenha algum desvio comportamental – como vaidade, generosidade, covardia – até que quase toda população da cidade esteja presa. O alienista conclui, então, que não é viável que todo mundo seja louco e que uma nova teoria é necessária. A nova teoria – tão cínica quanto a primeira era ingênua – propõe que louco é aquele que não é racional, ou seja, avarento, traiçoeiro, egoísta, arrogante, vingativo, bajulador, etc. Esse trecho é uma divertida alusão de Machado de Assis a “Dom Quixote” – o cavaleiro perdido no mundo capitalista - e uma ironia ácida sobre a corrupção, se não dos brasileiros, da Humanidade.

O que Machado provavelmente quis provar – e, creio, o fez com maestria – é que a ciência falha e que, no entanto, freqüentemente cremos em suas conclusões cegamente, que é exatamente o oposto do que se propõe no método científico. O personagem que melhor ilustra o argumento é o (suposto) amigo do alienista, Crispim Soares, que é retratado como um bajulador, um covarde quando se dispara uma revolta contra o alienista e um oportunista quando sua esposa é internada.

A história é brilhante e da melhor espécie: a que faz primeiro rir e depois pensar. Eu recomendo que leiam a novela inteira (é divertidíssima), que está no livro “Papéis Avulsos” de Machado de Assis, junto a outros contos geniais. E sugiro também uma versão em quadrinhos (que foi, admito, o motivo pelo qual decidi escrever sobre “O Alienista”) desenhada pelos irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, sobre quem já falei um pouco quando recomendei “Daytripper”.