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17 de jun. de 2011

Agenda Cultural: "O Alienista"


A maioria dos leitores deve ter ouvido falar pelo menos uma vez de “O Alienista”, uma novela de Machado de Assis, e certamente de um professor de português/literatura. É possível, no entanto, que alguém não conheça a história, de modo que não seria mau fazer um resumo.

A história se passa na em Itaguaí, na segunda metade do século XIX, e começa com um médico que toma imenso interesse pela loucura e decide, a fim de estudar e esclarecer o tema, um manicômio na cidade. Aos poucos o alienista começa a internar, de modo inocente, qualquer pessoa que tenha algum desvio comportamental – como vaidade, generosidade, covardia – até que quase toda população da cidade esteja presa. O alienista conclui, então, que não é viável que todo mundo seja louco e que uma nova teoria é necessária. A nova teoria – tão cínica quanto a primeira era ingênua – propõe que louco é aquele que não é racional, ou seja, avarento, traiçoeiro, egoísta, arrogante, vingativo, bajulador, etc. Esse trecho é uma divertida alusão de Machado de Assis a “Dom Quixote” – o cavaleiro perdido no mundo capitalista - e uma ironia ácida sobre a corrupção, se não dos brasileiros, da Humanidade.

O que Machado provavelmente quis provar – e, creio, o fez com maestria – é que a ciência falha e que, no entanto, freqüentemente cremos em suas conclusões cegamente, que é exatamente o oposto do que se propõe no método científico. O personagem que melhor ilustra o argumento é o (suposto) amigo do alienista, Crispim Soares, que é retratado como um bajulador, um covarde quando se dispara uma revolta contra o alienista e um oportunista quando sua esposa é internada.

A história é brilhante e da melhor espécie: a que faz primeiro rir e depois pensar. Eu recomendo que leiam a novela inteira (é divertidíssima), que está no livro “Papéis Avulsos” de Machado de Assis, junto a outros contos geniais. E sugiro também uma versão em quadrinhos (que foi, admito, o motivo pelo qual decidi escrever sobre “O Alienista”) desenhada pelos irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, sobre quem já falei um pouco quando recomendei “Daytripper”.

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