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3 de jun. de 2011
Agenda Cultural: "Maus"
Na edição de hoje da Agenda Cultural, gostaria de recomendar “Maus”, uma história em quadrinhos de Art Spiegelman, lançado em dois volumes (o primeiro em 1986, o segundo em 1991) e o único do gênero a receber um Prêmio Pulitzer. “Maus” – que, aliás, quer dizer “ratos” em alemão – também foi elogiado por Alan Moore (autor de “Watchmen”, “V de Vingança”, entre outros clássicos dos quadrinhos), um dos grandes nomes do ramo.
A história consiste no relato do pai de Art, Vladek, um judeu polonês que sobreviveu ao regime nazista e a Auschwitz, sobre um dos períodos mais tenebrosos da História. A trama se desenrola em duas frentes: em uma, Art retrata seu relacionamento difícil com seu pai durante as entrevistas e, na outra, o relato propriamente dito.
A primeira coisa que o leitor notará quando vir a capa é que todos personagens são representações antropomórficas de animais, cada animal representando uma nacionalidade: judeus são retratados como ratos, alemães como gatos, americanos como cães, etc. Essa metáfora visual faz com que a única distinção possível entre os personagens seja a roupa que vestem (nos trechos em que são forçados a usar uniformes, aliás, é impossível notar qualquer diferença) e reproduz visão preconceituosa propagada pelo nazismo – a de que todos os judeus são iguais entre si e não mais do que animais. É sempre doloroso ver as personagens retratadas como animais tentarem manter sua dignidade, como em um momento em que Vladek e Anja – sua esposa e mãe de Art – têm que se esconder num porão e enfrentar ratos de verdade. Algumas partes do relato são brutais – e, infelizmente, verdadeiras -, o que me obriga a dizer que o livro não é recomendado a pessoas mais sensíveis.
O homem que é entrevistado - racista, sovina, neurótico e intratável - contrasta fortemente com o Vladek das histórias, que não media esforços para resgatar sua esposa e a si mesmo. Vladek, completamente destruído, inferniza a vida de sua segunda esposa (Anja cometeu suicídio em 1968) e de seu filho com suas manias - de poupar tudo, até fósforos, e condenar qualquer gasto que considere inútil e/ou alto.
Um relato tocante sobre as vítimas do nazismo, “Maus” é também a mais poderosa crítica ao preconceito e, certamente, uma das obras-primas das histórias em quadrinhos. A história é brilhante, assim como a idéia de representar cada nação por um animal. E, embora o relato de Vladek falhe algumas vezes, uma aula de História que números, fotos e professores nunca conseguirão fazer.
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