“Raça Humana” é um disco de 1984 de Gilberto Gil e um dos meus favoritos. Curiosamente, os anos 80 são considerados uma década pobre para a música e, de fato, a maioria dos artistas que haviam se estabelecido nas décadas de 60 e 70 estavam em baixa. Gilberto Gil, no entanto, ainda estava produzindo obras-primas. O disco, que faz uma incursão por ritmos diversos, deve ter causado surpresa ao público acostumado com Gil tocando bossa nova, baião, samba e xote: ele faz uma incursão nos ritmos que estavam em voga na época, reggae e rock, e em momento algum decepciona o ouvinte.
Em seguida vem “Tempo Rei”, que é uma das minhas favoritas do Gilberto Gil, uma prece ao tempo, que lentamente corrige os males do mundo e esculpe a beleza em todos que toca. A música é mais lenta em contrastante com as três primeiras, mais enérgicas. Logo depois ouvimos “Vamos Fugir”, provavelmente uma das músicas de maior sucesso de Gilberto e que conta com participação de ninguém menos do que os Wailers (a banda da qual Bob Marley fez parte e, mais tarde, virou a banda DELE). Bob Marley, curiosamente, não aparece na gravação.
Há ainda, “Índigo Blue”, “Vem Morena”, "A Mão da Limpeza" e “A Raça Humana”. “Vem Morena” é originalmente um baião de Luiz Gonzaga, que Gil adaptou a instrumentos elétricos. A música inteira é ditada pelo baixo de Liminha, que toca o tempo todo usando uma técnica chamada “slap”, que consiste em bater nas cordas e dá um efeito vibrante difícil de explicar. E, por fim, “A Raça Humana” é também um reggae, lindo de arrepiar, especialmente quando Gil começa a cantar, sem palavras, com seu falsete característico. A letra descreve maravilhosamente o eterno sofrimento da Humanidade (“A raça humana/ risca, rabisca, pinta/ à tinta, a lápis, carvão ou giz/ o rosto da saudade/ que traz do gênesis”). “Índigo Blue” é um reggae estilizado, também muito bonito, mas o conteúdo da letra me impede de falar mais num texto que será publicado. "Mão da Limpeza", que eu acho a menos interessante do álbum, tem, no entanto, a letra mais forte, trata do racismo e da condição atual do negro no Brasil.
Um disco brilhante. Espero que eu tenha convencido vocês a comprá-lo e ouvi-lo.
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