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2 de set. de 2011

Agenda Cultural: "Tintin"



Tenho certeza de que você, caro leitor desta magnífica Agenda, já assistiu, há muito tempo, a algum desenho animado do Tintin. Também estou certo de que ouviu falar que Peter Jackson, o diretor de “Senhor dos Anéis” e “King Kong”, está produzindo um filme do Tintin, com direção de Steven Spielberg. Ainda me lembro de ter dito, em outras edições desta fantástica Agenda, que sou um fanático por quadrinhos. E, por fim, caros leitores, imagino que saibam aonde quero chegar: recomendo que comprem e leiam a fantástica coleção de histórias de Tintin, escritas e desenhadas pelo belga Georges Remi (mais conhecido pelo pseudônimo “Hergé”).

A coleção consiste em 23 títulos (24, se incluírem “Tintin e a Alpha-Arte”, cuja criação foi infelizmente interrompida pela morte de Hergé) e apresenta personagens imortais como o próprio Tintin, seu cachorro, Milu, o mal-humorado e beberrão Capitão Haddock, o Professor Girassol, os detetives Dupont e Dupond, entre outros.

As três primeiras histórias – “Tintin no País dos Sovietes”, “Tintin no Congo” e “Tintin na América” - não são muito boas. Todas se desenvolvem em episódios curtos, sem muita coesão, quando não transparecem alguns preconceitos do autor. Os quarto e quinto volumes – “Os Charutos do Faraó” e “O Lótus Azul” -, entretanto, são certamente os meus favoritos (mesmo que não tenham o Capitão Haddock) e fazem com que a série finalmente engrene.

“As Aventuras de Tintin” são grandes histórias de mistério e conspiração, sempre com um pouco de humor – como as trapalhadas de Dupont e Dupond, os insultos do Capitão (“Marinheiros de água doce!”, “Com mil milhões de borrascas!”, “Anacolutos!”) ou a caricatura que Hergé faz da América Latina em alguns arcos.

Gostaria de mencionar todos os volumes de que gosto, mas, visto que gosto de quase todos, parece-me uma tarefa desnecessária. Espero sinceramente, como sempre, que tenha convencido você, caro leitor, a ler e lembrar as aventuras de Tintin.

A lista dos títulos em ordem de lançamento:

1. Tintim no País dos Sovietes
2. Tintim no Congo
3. Tintim na América
4. Os Charutos do Faraó
5. O Lótus Azul
6. O Ídolo Roubado
7. A Ilha Negra
8. O Cetro de Ottokar
9. O Caranguejo das Pinças de Ouro
10. A Estrela Misteriosa
11. O Segredo do Licorne
12. Tesouro de Rackham o Terrível
13. As Sete Bolas de Cristal
14. O Templo do Sol
15. Tintim no País do Ouro Negro
16. Rumo à Lua
17. Explorando a Lua
18. O Caso Girassol
19. Perdidos no Mar
20. Tintim no Tibete
21. As Jóias da Castafiore
22. Voo 714 para Sydney
23. Tintim e os Pícaros
24. Tintim e a Alfa-Arte




17 de ago. de 2011

Agenda Cultural: Beto Guedes

Haverá, nos dias 19 e 20 de agosto, às 22h30, no Café Paon (Av. Pavão, 950, Moema), duas apresentações de Beto Guedes, um dos fundadores do consagrado Clube da Esquina, junto a Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges. Os ingressos estão disponíveis aqui por R$ 100, R$ 130 ou R$ 150, dependendo do lugar escolhido. Caso queira mais informações, ligue para (011) 5531-5633 ou (011) 5533-5100.

Beto Guedes é, creio, um dos membros menos conhecidos do Clube da Esquina, talvez porque não apresentou composições no disco que o grupo lançou, ou talvez porque Milton Nascimento o ofusque. O que é uma injustiça: Beto Guedes também compôs músicas fantásticas (como “Lumiar”, “Sal da Terra”, “Amor de Índio”, “Página do Relâmpago Elétrico”, “Sol de Primavera”, entre outras) e fez grandes interpretações de seus colegas de Clube, como “Maria Solidária”, de Milton, e “Paisagem da Janela”, de Lô Borges.

A quem não conhece a obra de Beto Guedes, recomendo que compre e ouça o disco “A Página do Relâmpago Elétrico”, que é excelente, e as músicas que citei acima, seus maiores sucessos. E sugiro a todos, se possível, que vão a (pelo menos) um dos shows.

Lumiar - Beto Guedes:

12 de ago. de 2011

Agenda Cultural: "Sandman"


Os leitores desta magnífica Agenda já devem ter percebido que sou fanático por histórias em quadrinhos. Lembro-me de já ter comentado, quando recomendei “Daytripper”, sobre a evolução do gênero, a princípio voltado para o público infantil, e que está, desde os anos 80, tomando uma temática mais adulta e revelando seu potencial como obra de arte ao atrair excelentes escritores e desenhistas.

“Sandman”, de Neil Gaiman, é uma das obras-primas dos quadrinhos e, potencialmente, a de maior importância. Apesar do nome sugestivo, Sandman não é um super-herói. O protagonista é, na verdade, uma entidade responsável pelos sonhos de todos os seres do Universo, não exatamente um deus, uma vez que os deuses têm origem em seu domínio. A história começa quando Sandman é capturado e aprisionado por um mago, o que põe em movimento os eventos que se sucedem. Rapidamente é revelado que, apesar de ser o senhor dos sonhos, Sandman não é uma figura alegre e despreocupada, como o imaginaríamos, mas sóbrio, mal humorado, sombrio e vingativo. Ao longo da série também se vê que, apesar de ser infinitamente poderoso, não é infalível, sobretudo em seus relacionamentos pessoais, que, aliás, quase invariavelmente terminam mal.

A série é dividida em sete arcos e três coletâneas de histórias curtas. À exceção do primeiro, em que o autor ainda tentava se estabelecer, todos os arcos são brilhantes, acompanhando as mudanças pelas quais Sandman passa após ser aprisionado. As histórias curtas, no entanto, são absolutamente geniais. Em uma delas Shakespeare apresenta com sua trupe “Sonho de uma Noite de Verão” para uma audiência de fadas e o próprio Sandman, e mostra o relacionamento de Shakespeare com seu filho Hamnet – um presságio para outros eventos da série. Em outra, chamada “Ramadan”, que se passa em Bagdá, o sr. Gaiman imita o ritmo das histórias das “Mil e Uma Noites”, para não mencionar as ilustrações extraordinárias de P. Craig Russell.

A série consiste, no total, em 75 revistas, mas já reunidas em volumes e, mais recentemente, em uma edição de colecionador com capa dura, já traduzida para o português. Mais uma vez devo dizer que as histórias são excelentes, para não mencionar as ilustrações (colaboração de inúmeros desenhistas) e a conclusão: vale a pena seguir seus sonhos?


A lista dos volumes é a seguinte (sugiro que leiam todos - e nessa ordem):
Prelúdios & Noturnos
A Casa de Bonecas
Terra dos Sonhos
Estação das Brumas
Um Jogo de Você
Fábulas & Reflexões
Vidas Breves
Fim dos Mundos
Entes Queridos
Despertar

5 de ago. de 2011

Agenda Cultural: "Dilbert"


"Dilbert”, de Scott Adams, é, certamente, a mais famosa tirinha a tratar do mundo corporativo. As histórias são geralmente ambientadas no escritório em que o personagem-título trabalha, um inferno de burocracia, incompetência e estupidez generalizadas. O humor da tirinha costuma se concentrar na falta de habilidades sociais de Dilbert, em sua relação com seus colegas de trabalho, em Dogbert, seu cachorro cínico e cruel e, principalmente, nas idiotices de seu chefe, quase sempre retratado como um imbecil ganancioso e irresponsável. Há ainda as políticas insanas que a empresa pratica, como a de promover somente os funcionários mais incompetentes a gerentes, a fim de impedi-los de trabalhar, sempre recheadas de jargão administrativo sem sentido.
“Dilbert” é particularmente engraçado para quem trabalha no mundo corporativo e/ou estuda administração, uma vez que facilmente reconhece em algum dos personagens o colega de trabalho estúpido, o chefe folgado, as políticas ilógicas, etc., a que se sujeitam no emprego.

As tirinhas são lançadas diariamente no site http://www.dilbert.com/, e trazem garantidamente diversão e risadas.

O chefe

Dogbert

8 de jul. de 2011

Agenda Cultural: "Zombie Economics"

A crise de 2008. Um assunto recorrente nos dias de hoje. Muitas foram as causas apontadas, algumas dessas sendo ideias inerentes ao pensamento econômico moderno, ideias muito antigas e que, em mais de uma situação, foram provadas mortas. Matar vampiros e lobisomens é bastante simples, mas como matamos zumbis do pensamento econômico?

Em “Zombie Economics – How dead ideas still walk among us”, John Quiggin, professor da Universidade de Queensland, tenta, de forma descontraída e de fácil leitura, expor alguns desses “zumbis”, de onde vieram, qual sua relação com crise e, por meio da historia, teoria econômica e de evidências concretas, algumas formas de nos livrarmos deles.

Uma leitura essencial para todos, desde o estudante, passando pelo profissional da área, até o simples curioso.

24 de jun. de 2011

Agenda Cultural: "A Vida dos Outros"


Gostaria de recomendar “A Vida dos Outros” (o título original, em alemão, é “Das Leben der Anderen”), lançado em 2006, dirigido e escrito por Florian Henckel von Donnersmarck, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e de muitos outros prêmios na Alemanha e mundo afora.

“A Vida dos Outros” se passa na Alemanha Oriental ainda sob regime socialista e o protagonista, Gerd Wiesler, é um dos agentes da polícia secreta do governo (a temida Stasi) e cuja função consiste em vigiar suspeitos de “conspirar” contra o regime. A história começa quando o ministro da cultura decide vigiar o escritor Georg Dreyman, que namora a atriz Christa-Maria Sieland, por quem o ministro tem interesses sexuais. Gerd, como homem do regime, obedece sem questionar e arma câmeras pela casa de Dreyman, e começa a observar sua vida pessoal.

À medida que espia Dreyman, sua relação com Maria e com seus amigos, Gerd percebe como sua vida inteiramente dedicada ao regime é vazia, solitária e infeliz e passa a criar simpatia pelo casal, ao ponto de ajudar Fulana quando ela tem uma crise nervosa depois de ser abusada pelo ministro e se sensibilizar quando Dreyman toca uma peça ao piano – chamada “Sonata para um homem bom” – e encobrir suas conspirações contra o regime. O ator que faz o papel de Gerd, Ulrich Mühe, está absolutamente brilhante: interpretar um personagem que muda ao longo da trama é uma tarefa difícil, e Mühe deixa bem claro que está à altura do desafio.

Além de uma história excelente, há ainda pitadas de humor contra os regimes totalitários, especialmente contra o cinismo das autoridades que se vêem no direito de violar os direitos à privacidade e à liberdade do povo.

Creio que, nesse caso, contar o final do filme não vai estragar a graça de assistir a “A Vida dos Outros”, mas aqueles que não quiserem saber podem pular este parágrafo. No fim, o regime socialista é derrubado após a Queda do Muro de Berlim, e os arquivos secretos do regime são abertos a público. Sicrano, desconfiado de que fora espionado, descobre que o espião responsável por vigiá-lo, Fulano, o protegeu. Um pouco depois, Dreyman escreve um livro chamado, justamente, “Sonata para um Homem Bom”. Gerd vai comprar o livro e vê que é dedicado a ele mesmo e, quando lhe perguntam, no caixa, se quer embrulhar para presente, ele responde “Não, obrigado. É para mim.”

Eu acabei omitindo alguns detalhes – esses sim acabariam com a graça do filme -, mas espero, mais uma vez, que tenha convencido você, caro leitor, a assistir ao filme. É um tema recorrente na arte se somos de fato capazes de mudar e nos tornar pessoas melhores, e as respostas variam, mas poucas são escritas tão belamente quanto em “A Vida dos Outros”.

17 de jun. de 2011

Agenda Cultural: "O Alienista"


A maioria dos leitores deve ter ouvido falar pelo menos uma vez de “O Alienista”, uma novela de Machado de Assis, e certamente de um professor de português/literatura. É possível, no entanto, que alguém não conheça a história, de modo que não seria mau fazer um resumo.

A história se passa na em Itaguaí, na segunda metade do século XIX, e começa com um médico que toma imenso interesse pela loucura e decide, a fim de estudar e esclarecer o tema, um manicômio na cidade. Aos poucos o alienista começa a internar, de modo inocente, qualquer pessoa que tenha algum desvio comportamental – como vaidade, generosidade, covardia – até que quase toda população da cidade esteja presa. O alienista conclui, então, que não é viável que todo mundo seja louco e que uma nova teoria é necessária. A nova teoria – tão cínica quanto a primeira era ingênua – propõe que louco é aquele que não é racional, ou seja, avarento, traiçoeiro, egoísta, arrogante, vingativo, bajulador, etc. Esse trecho é uma divertida alusão de Machado de Assis a “Dom Quixote” – o cavaleiro perdido no mundo capitalista - e uma ironia ácida sobre a corrupção, se não dos brasileiros, da Humanidade.

O que Machado provavelmente quis provar – e, creio, o fez com maestria – é que a ciência falha e que, no entanto, freqüentemente cremos em suas conclusões cegamente, que é exatamente o oposto do que se propõe no método científico. O personagem que melhor ilustra o argumento é o (suposto) amigo do alienista, Crispim Soares, que é retratado como um bajulador, um covarde quando se dispara uma revolta contra o alienista e um oportunista quando sua esposa é internada.

A história é brilhante e da melhor espécie: a que faz primeiro rir e depois pensar. Eu recomendo que leiam a novela inteira (é divertidíssima), que está no livro “Papéis Avulsos” de Machado de Assis, junto a outros contos geniais. E sugiro também uma versão em quadrinhos (que foi, admito, o motivo pelo qual decidi escrever sobre “O Alienista”) desenhada pelos irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, sobre quem já falei um pouco quando recomendei “Daytripper”.

3 de jun. de 2011

Agenda Cultural: "Maus"


Na edição de hoje da Agenda Cultural, gostaria de recomendar “Maus”, uma história em quadrinhos de Art Spiegelman, lançado em dois volumes (o primeiro em 1986, o segundo em 1991) e o único do gênero a receber um Prêmio Pulitzer. “Maus” – que, aliás, quer dizer “ratos” em alemão – também foi elogiado por Alan Moore (autor de “Watchmen”, “V de Vingança”, entre outros clássicos dos quadrinhos), um dos grandes nomes do ramo.

A história consiste no relato do pai de Art, Vladek, um judeu polonês que sobreviveu ao regime nazista e a Auschwitz, sobre um dos períodos mais tenebrosos da História. A trama se desenrola em duas frentes: em uma, Art retrata seu relacionamento difícil com seu pai durante as entrevistas e, na outra, o relato propriamente dito.

A primeira coisa que o leitor notará quando vir a capa é que todos personagens são representações antropomórficas de animais, cada animal representando uma nacionalidade: judeus são retratados como ratos, alemães como gatos, americanos como cães, etc. Essa metáfora visual faz com que a única distinção possível entre os personagens seja a roupa que vestem (nos trechos em que são forçados a usar uniformes, aliás, é impossível notar qualquer diferença) e reproduz visão preconceituosa propagada pelo nazismo – a de que todos os judeus são iguais entre si e não mais do que animais. É sempre doloroso ver as personagens retratadas como animais tentarem manter sua dignidade, como em um momento em que Vladek e Anja – sua esposa e mãe de Art – têm que se esconder num porão e enfrentar ratos de verdade. Algumas partes do relato são brutais – e, infelizmente, verdadeiras -, o que me obriga a dizer que o livro não é recomendado a pessoas mais sensíveis.

O homem que é entrevistado - racista, sovina, neurótico e intratável - contrasta fortemente com o Vladek das histórias, que não media esforços para resgatar sua esposa e a si mesmo. Vladek, completamente destruído, inferniza a vida de sua segunda esposa (Anja cometeu suicídio em 1968) e de seu filho com suas manias - de poupar tudo, até fósforos, e condenar qualquer gasto que considere inútil e/ou alto.

Um relato tocante sobre as vítimas do nazismo, “Maus” é também a mais poderosa crítica ao preconceito e, certamente, uma das obras-primas das histórias em quadrinhos. A história é brilhante, assim como a idéia de representar cada nação por um animal. E, embora o relato de Vladek falhe algumas vezes, uma aula de História que números, fotos e professores nunca conseguirão fazer.

27 de mai. de 2011

Agenda Cultural: "Raça Humana"

“Raça Humana” é um disco de 1984 de Gilberto Gil e um dos meus favoritos. Curiosamente, os anos 80 são considerados uma década pobre para a música e, de fato, a maioria dos artistas que haviam se estabelecido nas décadas de 60 e 70 estavam em baixa. Gilberto Gil, no entanto, ainda estava produzindo obras-primas. O disco, que faz uma incursão por ritmos diversos, deve ter causado surpresa ao público acostumado com Gil tocando bossa nova, baião, samba e xote: ele faz uma incursão nos ritmos que estavam em voga na época, reggae e rock, e em momento algum decepciona o ouvinte.

“Extra II (O Rock do Segurança)” abre o disco com tudo: o baixo providencia um riff rápido e dançante e, no refrão, o sintetizador faz a harmonia no contratempo. Vibrante! “Feliz por um Triz” também é legal, mas a mais divertida é, de longe, “Pessoa Nefasta”, que tem uma das melhores letras de todos os tempos. Gil roga pragas como ninguém! (“Tu, pessoa nefasta/ faz o espírito obeso/ correr, perder peso,/ ficar são!”)

Em seguida vem “Tempo Rei”, que é uma das minhas favoritas do Gilberto Gil, uma prece ao tempo, que lentamente corrige os males do mundo e esculpe a beleza em todos que toca. A música é mais lenta em contrastante com as três primeiras, mais enérgicas. Logo depois ouvimos “Vamos Fugir”, provavelmente uma das músicas de maior sucesso de Gilberto e que conta com participação de ninguém menos do que os Wailers (a banda da qual Bob Marley fez parte e, mais tarde, virou a banda DELE). Bob Marley, curiosamente, não aparece na gravação.

Há ainda, “Índigo Blue”, “Vem Morena”, "A Mão da Limpeza" e “A Raça Humana”. “Vem Morena” é originalmente um baião de Luiz Gonzaga, que Gil adaptou a instrumentos elétricos. A música inteira é ditada pelo baixo de Liminha, que toca o tempo todo usando uma técnica chamada “slap”, que consiste em bater nas cordas e dá um efeito vibrante difícil de explicar. E, por fim, “A Raça Humana” é também um reggae, lindo de arrepiar, especialmente quando Gil começa a cantar, sem palavras, com seu falsete característico. A letra descreve maravilhosamente o eterno sofrimento da Humanidade (“A raça humana/ risca, rabisca, pinta/ à tinta, a lápis, carvão ou giz/ o rosto da saudade/ que traz do gênesis”). “Índigo Blue” é um reggae estilizado, também muito bonito, mas o conteúdo da letra me impede de falar mais num texto que será publicado. "Mão da Limpeza", que eu acho a menos interessante do álbum, tem, no entanto, a letra mais forte, trata do racismo e da condição atual do negro no Brasil.

Um disco brilhante. Espero que eu tenha convencido vocês a comprá-lo e ouvi-lo.

20 de mai. de 2011

Agenda Cultural: "A Guerra do Fim do Mundo"

“A Guerra do Fim do Mundo”, do escritor peruano Mario Vargas Llosa*, lembra, se me permitem a comparação, uma catedral. Já lhes explico por quê. O livro é uma versão romanceada de um episódio histórico ocorrido no Brasil, a Guerra de Canudos, e se inspira em “Os Sertões” de Euclides da Cunha – a quem, aliás, Mario dedica o romance.

A obra reúne várias histórias de personagens, fictícias ou verídicas, de alguma forma ligadas a Canudos: os aflitos pela miséria e pelo abandono da caatinga que peregrinaram pelo sertão atrás de Antonio Conselheiro e fundaram o povoado de Belo Monte, os soldados e oficiais das quatro expedições militares enviadas para suprimir a revolta, um europeu que acredita que Canudos é uma experiência anarquista (!) , um jornalista (inspirado, creio eu, em Euclides da Cunha), um rastejador e sua esposa. A história começa introduzindo, um por um, os seguidores de Antônio Conselheiro, suas trajetórias miseráveis em um mundo abandonado e atrasado até encontrar a salvação em um carismático e admirável líder religioso.

A história por si só já é ótima, relatada sob os pontos de vista das diversas personagens da trama, ilustrando a série de mal entendidos que levou à resistência heróica de Canudos, ao preconceito de que se tratava de uma revolta monarquista qualquer e, por fim, à tragédia. E o sr. Vargas Llosa sabe interromper com precisão uma história para manter o suspense e a curiosidade do leitor. Mas sou obrigado a dizer que os pontos altos são os momentos em que o narrador descreve o carinho com que Antônio Conselheiro prega a seus seguidores. E, nesse sentido, o livro lembra uma catedral: não apenas pela riqueza de detalhes, mas principalmente por provocar admiração pelo poder da fé. Uma catedral é construída de modo a que os seguidores sintam vontade de rezar e os não-religiosos, se não for possível convertê-los, pelo menos reconheçam o poder da religião.

*Mario Vargas Llosa é considerado um dos maiores escritores latino-americanos, ao lado de Júlio Cortázar, Carlos Fuentes e Gabriel García Márquez, ganhou um prêmio Nobel de Literatura em 2010 e lançou, também em 2010, sua mais recente novela - “O Sonho do Celta”.

13 de mai. de 2011

Agenda Cultural: Festival MPB Total 2011


Ocorrerá, no dia 22 de maio (domingo), no Parque Anhembi (Av. Olavo Fontoura, 1209 – Santana), o Festival MPB Total 2011. O Festival contará com a presença de consagrados e populares intérpretes/compositores da música popular brasileira, como DJ Iraí Campos (começando às 13h30), Arnaldo Antunes (às 14h45), Vanessa da Mata (16h30), Lenine (18h15) e Seu Jorge (das 20h30 até 21h15). Os portões se abrem às 13h. A idade mínima para entrar é de 16 anos.


Mais informações em: http://www.ingressorapido.com.br/Evento.aspx?ID=15260&utm_source=Banner_Destaque05&utm_medium=Banner_Destaque05&utm_content=Festival_MPB_Total_2011&utm_campaign=Banner_Destaque05&utm_nooverride=1

11 de mai. de 2011

Agenda Cultural: Olhares Impressos

Hoje teremos um Agenda extra porque o evento em questão é muito legal e, mais importante, acaba esse fim de semana.

Está ocorrendo, até o dia 14 (sábado), das 10h às 20h, no Ateliê Michelangelo (r. Fradique Coutinho, 798 – Vila Madalena, tel.: (11) 3815-3800), a exposição “Olhares Impressos”. A exposição, que faz parte da primeira edição do programa SP Estampa, promovido pela Galeria Gravura, traz uma série de gravuras pequenas.

Algumas obras acabaram se destacando e são, apesar das dimensões pequenas, visualmente impressionantes. Gostaria de mencionar “Escarpa”, de Mari Dias, que parece reproduzir um recife coberto por coral, mas só com tinta e sem traços, o que dá um aspecto “submarino” que eu não imaginava possível. Sinto-me obrigado, também, a falar do “Pingüim”, de Rafael Kenji, um exemplo intrigante de como fazer perspectiva usando a técnica de xilogravura, que consiste em talhar o desenho em uma matriz de madeira, passar tinta e pôr uma folha de papel para copiar a gravura. O sr. Kenji consegue fazer os efeitos de luz e sombra com uma precisão assustadora, provavelmente por ser discípulo de Ernesto Bonato, um senhor que cria xilogravuras que mais parecem fotos.

Uma xilogravura (não uma foto!) de Ernesto Bonato, mestre de Rafael Kenji

Devo também fazer justiça a “Hécate”, da curadora Carola Trimano, que guiou minha breve visita à exposição. Hécate é (são) uma(s) das deusas gregas da Lua, representada por três rostos femininos, cada um representando uma fase lunar (a face que representaria a lua nova não aparece), e também das encruzilhadas e, portanto, das decisões. A gravura, feita em estilo medieval – semelhante a uma carta de tarô –, é, acredito, uma homenagem às decisões, um dos aspectos mais difíceis da vida e ao qual o homem (especialmente administradores e economistas) dedica a vida inteira em busca da melhor escolha. (Mas talvez eu ache isso porque estou em uma faculdade de economia e administração!)

Hécate, deusa das encruzilhadas - e da escolha
A sra. Trimano oferecerá, no dia 14, às 14h, também no Ateliê Michelangelo, um workshop de gravuras ecologicamente sustentáveis e pode estar disponível para uma visita guiada pela exposição (pergunte no balcão). Para maiores detalhes sobre o curso, veja http://passarodepapel.blogspot.com/

Agradecimentos especiais a Mari Dias e ao Sean, que nos recomendaram a exposição.

6 de mai. de 2011

Agenda Cultural: "Songs For Days" - Joff Winks Band


“Songs For Days” é o único disco – apesar de uma coleção de EPs - do grupo britânico Joff Winks Band. A banda é um dos projetos do quarteto composto pelo próprio Joff Winks (guitarra e voz), Matt Baber (teclados), Brad Waissman (baixo) e Paul Mallyon (bateria), que correntemente atua sob o nome de Sanguine Hum. O disco foi lançado em 2007 por um selo independente chamado Troopers For Sound.

Quando ouvi, sob recomendação de um amigo, uma amostra do disco, eu o comprei imediatamente! Eu fiquei sinceramente surpreso com a qualidade dos músicos, a ênfase dada ao baixo e aos teclados, e a complexidade da música, que, no entanto, não é difícil nem desagradável de se ouvir. Os grupos de rock de hoje em dia costumam compor músicas com estruturas simples e, infelizmente, previsíveis: quase sempre começam a canção com um certo volume, tocam mais forte durante o refrão (a parte que tem que grudar na sua cabeça) e repetem, formato A-B-A-B, com progressões de acordes bem óbvias. A banda faz questão de cuidar bem das dinâmica e cadência de cada música, mas sempre transmitindo emoção e uma vontade de cantar junto (e às vezes, admito com certa vergonha, de dançar). "Milo", "Juniper", "Before We Bow Down" e "Little Machines" são particularmente bonitas, sempre com riffs imaginativos e interpretações intensas de Joff Winks nos vocais. Em Juniper, em particular, há um trecho em que ele grava duas melodias diferentes ao mesmo tempo, fazendo um pequeno contraponto. O efeito - confesso também com vergonha - me dá arrepios.

Se minha modesta resenha tiver convencido você a ouvir “Songs For Days”, eu também sugiro que entre no link da Troopers For Sound - http://troopersforsound.com/catalogue/songs-for-days/ -, que dispõe amostras gratuitas de cada canção, vende o disco ou as canções individualmente.

29 de abr. de 2011

Agenda Cultural: "Romantismo: a Arte do Entusiasmo" e "Olhar e Ser Visto"

O MASP está realizando as exposições “Olhar e Ser Visto”, que traz ao Brasil uma coleção de retratos e auto-retratos de Ticiano, Rembrandt, Velázquez, Goya, Van Gogh, Renoir, Manet, Cézanne, Picasso, Portinari e Modigliani e a exposição “Romantismo: a Arte do Entusiasmo”, que conta com pinturas de Monet, Bosch, El Greco, Dalí e alguns dos pintores já mencionados. A apresentação estará aberta ao público de terça a domingo das 11h às 18h (exceto às quintas-feiras, em que a exposição fecha às 20h). Às terças-feiras a entrada é gratuita para todos, nos demais dias o ingresso custa R$ 15,00 (R$ 7,00 para estudantes, grátis para menores de 10 anos e maiores de 60), no segundo andar do prédio. A bilheteria fecha sempre uma hora antes de fechar a exposição. Endereço: Av. Paulista, 1578, Cerqueira César, São Paulo. Telefone para contato: (11) 3251 5644. Estacionamento: Garagem Trianon, Pça. Alexandre Gusmão ou Progress Park, Avenida Paulista, 1636.

A exposição “Romantismo” é subdividida em temas recorrentes na arte: a Natureza, o Corpo, a Paisagem Urbana, o Imaginário e as Paixões. É particularmente interessante notar as mudanças técnicas e estéticas ao longo do tempo, como entre as pinturas renascentistas, tão precisos que se parecem com fotos, e as impressionistas, que, ao abolir o uso de traços, conseguem reproduzir movimento e texturas lindamente. Há apenas um quadro de Bosch na exposição – “As Tentações de Santo Antão” -, que, embora tenha sido pintado no século XVI, é facilmente confundido com uma obra surrealista, por causa do modo com que o pintor combina imagens de animais e homens para criar os demônios que atormentam o santo. Renoir, Monet, Van Gogh e El Greco dispensam comentários (mesmo porque não é possível descrever seus trabalhos com palavras apropriadas a um texto público).

A exposição “Olhar e Ser Visto” ilustra a evolução do retrato do século XVI até o XX, com telas, fotografias, gravuras e esculturas de alguns dos artistas plásticos mais influentes da Humanidade, que, por si sós, já garantiriam a qualidade do acervo (e minha presença, evidentemente). A história do retrato acaba também mostrando a história da arte e da estética: a grandiosidade da arte sob encomenda do Renascimento, a invasão do prosaico no período Barroco, o caráter intimista/individualista do Romantismo e a desilusão que contagia as obras modernas. O mais importante, contudo, é que a história do retrato é também uma história do Homem, da mentalidade, de como vemos o mundo, nós mesmos e nossos semelhantes.

Passeio ao Crepúsculo, de Van Gogh, está entre os destaques da exposição

O Grande Pinheiro, de Cézanne
O Filho do Carteiro, também de Van Gogh


20 de abr. de 2011

Agenda Cultural: "O Mundo Mágico de Escher"

Haverá, a partir do dia 19 de abril até o dia 17 de julho, da terça ao domingo, das 9h até às 20h, no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil, r. Álvares Penteado, nº 112, tel.: 0(11) 3113-3651) uma exposição do mundialmente famoso desenhista holandês M. C. Escher.

A exposição, chamada “O Mundo Mágico de Escher”, traz ao Brasil 94 gravuras e desenhos – alguns originais - do artista, cuja fama é devida aos seus estudos de perspectiva, que frequentemente formam figuras impossíveis, e às “metamorfoses”, em que figuras se sucedem de tal modo que parecem realmente se transformar – um tabuleiro xadrez que se transforma em lagartos, que se transformam em hexágonos, que formam uma colméia, da qual saem insetos, que viram peixes, que se tornam aves, que viram cubos, que viram casas, que se unem em uma cidade, que se confunde com um jogo de xadrez e volta ao tabuleiro de onde o desenho começou.

O sr. Escher explora ao extremo as possibilidades do desenho, criando uma obra divertidíssima e sempre criativa. Recomendo, com certeza de que essa exposição vai surpreender e intrigar a cada peça.


18 de abr. de 2011

Agenda Cultural: Sala dos Professores

A primeira coisa que gostaria de divulgar na Agenda é um programa de rádio que passa diariamente, às 19h30, na Eldorado (FM 92.9), chamado Sala dos Professores. O programa, que dura vinte minutos, é apresentado por Daniel Daibem e se volta a transmitir jazz e música brasileira e a divulgar apresentações. O destaque do programa são gravações e artistas pouco conhecidos que o “professor” Daibem resgata, junto com explicações e descrições sobre a música. Entre as curiosidades apresentadas no programa cheguei a ouvir uma homenagem de Al Jarreau, Bobby McFerrin, George Benson e Jon Hendricks de “Freddie Freeloader”, uma das músicas do clássico disco de jazz, Kind of Blue, de Miles Davis, e uma interpretação de “Take Five”, outra canção consagrada do gênero, por Filó Machado, um talentosíssimo cantor/guitarrista/compositor brasileiro, que, no entanto, é praticamente desconhecido no Brasil. Na primeira, os cantores refazem, com as próprias vozes, os solos de trompete, piano, saxofones tenor e alto, respectivamente, do “standard” de Miles Davis. E, na segunda, Filó Machado improvisa sobre a canção de Paul Desmond também com sua voz enquanto faz o acompanhamento com a guitarra (!). O conteúdo do programa, aliás, segue invariavelmente esse nível de qualidade e é uma fonte inesgotável de música fantástica.

Peço, então, que todos apreciadores de música parem, por vinte minutos, de fazer qualquer outra coisa, liguem o rádio às 19h30 na Eldorado ou visitem o link: http://www.territorioeldorado.limao.com.br/interatividade/eldorado/audios!getAudios.action?idPrograma=67 sempre que quiserem ouvir e conhecer música da melhor qualidade.

Uma música que conheci ouvindo o programa (tenham paciência com os dois primeiros minutos):

Agenda Cultural: Abertura

Antes de começar, devo algumas explicações: esse texto que você está lendo neste exato instante é oficialmente a abertura do projeto Agenda Cultural. O projeto é uma iniciativa do Sementes Culturais e visa a divulgar livros, discos, filmes, exposições, apresentações e outros eventos relacionados a arte para estudantes do Insper – afinal, a vida não é só beber ou estudar. A cada semana, às sextas, será publicado um texto trazendo uma recomendação de programa cultural. Sugestões, comentários e resenhas são sempre bem-vindos. Aliás, peço que você, a quem essa Agenda é dedicada, participe o máximo possível. Que elogie, critique e recomende. Que ajude a divulgar a arte, enriquecer e divertir a sua vida e a de seus colegas.

17 de abr. de 2011